[21 maio 2006]
BARCELONA - review
Após pedidos de muitas famílias, talvez só uma mesmo, apresenta-se finalmente um comentário, ou relatório descritivo da tal viagem a Barcelona. Entre a partida do avião e a chegada, fora os momentos de táxi e metro, digamos que se esteve em constante andamento. E claro, como diria o John (o nosso querido senhorio), é assim que se deve ver Barcelona, Barcelona e outro sítio qualquer, se bem que após quatro dias a andar intensivamente, há quem fique bastante rabugento, outros ficam ainda mais chatos, e outros ficam ainda mais parvinhos. é a loucura no geral.
Aproveitando cada dia da nossa estadia, começámos a visita pouco depois de termos saído do avião, seguindo para o RazzMatazz, uma discoteca com cinco salas, cada uma dedicada a um estilo de música. Passando a maior parte do tempo na sala Razz!, onde passou desde Muse a Nirvana, aos “clássicos” do Verão. E, desde aí ao concerto de Who Made Who, tendo uma ajuda da amostra de população presente que não parava um minuto, também não parámos, acabando a noite perto das 5h. Se puderem ir, aproveitem, por uma vez vale os 15€ que, perdoem-me o português, se arrota. É, de qualquer maneira, uma bela descarga de energia para começar.
Com um plano “estritamente” estipulado, começámos com uma visita ao Museu Picasso, embora o susto do tamanho da fila não tenha sido muito esperançoso, o facto é que andou relativamente depressa, assim como a fila mais à frente, na La Pedrera. Não sendo particularmente fã de Picasso, achei a exposição com alguns pontos menos cativantes, ou outros com menos informação, mesmo assim chama-se a atenção para quadros como “Desemparats”, ou “El pequeño Pierrot com Flores” do seu período azul, a versão bastante estudada e variada de Picasso de “Las Meninas”, de resto temos ainda acesso a quadros interessantes de Picasso da sua adolescência, ou desenhos, como um estudo que adorei, “La Vida”. Se puderem, apanhem a visita guiada grátis, nós não fomos a tempo, mas ainda apanhámos pormenores de uma visita de estrangeiros.
Seguindo para um museu que desiludiu ligeiramente, o Museu L’Erótica, foi a entrada mais cara que pagámos, talvez por não ter tantas ajudas financeiras como desejadas. Sendo em alguns aspectos muito banal e vulgar, o lado histórico, muitas vezes de países Orientais, ou o culto de certas tribos à fertilidade são os mais interessantes. Note-se no vídeo pornográfico do princípio do séc. XX, é uma delícia.
Sem tempo para ir ao CCCB, seguimos para o MACBA (Museu de Arte Contemporânea de Barcelona), onde vale a pena ir à colecção permanente, arte mais abstracta (chama-se a atenção para a construção de chocolate em bom estado e o filme projectado que foi a paixao do Karl).
Duas coisas ao andar pelas ruas que me chamaram a atenção, uma delas terá sido a simples renovação das casas antigas, ou o simples facto de lhes darem um pouco de cor, acordam da noite para o dia, entre o cinzento e um amarelo vivo, ainda vai uma diferença de luz. Outro, foi as montras, pronto, não foram as montras em si, obviamente, mas as lojas extremamente alternativas, especialmente em artesanato; marionetas, bonecos, ou máscaras venezianas, de uma criatividade imensa, cor e vida, estimulante e inspirador. Para completar o dia mais intelectual, a noite foi completa com um concerto de Jazz no Museu Marítimo, congratulações ao casal de 60 anos, que estava mais fresco que os petizes, e ao guitarrista (igualzinho ao Paul Bettany).
Dia 2: Andei tanto que já ia de arrasto. É provável que não tenhamos dado por isso, dado que estávamos sempre a ver coisas pelo caminho, mas andámos BEM. Felizmente, começámos com um belo café a 1,20€ que nos despertou logo os sentidos. O Museu d’História de Catalunya é capaz de ter sido das visitas mais interessantes. Estando dividido minuciosamente em épocas, dá-nos uma perspectiva, de uma forma muito interactiva, de cada uma delas. Demorem à vontade umas duas horas, para ver tudo com calma, vale a pena. A “leve” corrida a subir as escadinhas (o Karl continua a ser um velocista exemplar) levou-nos a tempo ao Palau Nacional, no Museu Nacional de Arte da Catalunya, onde apanhámos uma exposição do, como lhe chamaram “Sr. da Banda Desenhada” e que só me agradou a mim, Tolouse Lautrec, que de certa forma terá a ver com Barcelona, todo o seu ambiente vintage. Barcelona tem traços de uma cidade que respirou muito dos loucos anos 20, vemos isso nas pessoas, vemos isso nos edifícios, sendo Gaudi e as suas obras os melhores representantes. Tolouse, amante da noite parisiense, mostra-nos cartazes com personagens que fizeram essas noites, com os sítios, e quase conseguimos imaginar, as vozes das meninas, os amores perdidos, os boémios. Por meios que não sei explicar, ainda vimos uma exposição que não tínhamos pago, a de Francesc Gimeno (Um Artista Maldito dava o nome à exposição, tendo sido o artista perseguido pelo seu realismo intenso), que embora esteja noutro plano, achei fantástico o realismo, especialmente dos retratos e auto-retratos. Após o nosso almoço diário de baguetes, e da sessão diária de “tirar-fotos-a-raparigas-que-não-conhecemos-de-lado-nenhum”, umas com interessen, outras nem por isso. Não é, Karl e João? Lá fomos andando até ao Poble Español, uma espécie de vila fechada dentro da cidade, o recreio do turista; lojas e restaurantes. Tivemos mais uma vez o encontro com lojas de artesanato (que só deu para “comer” com os olhos, já que os preços nem sempre são para a carteira do turista português), o que deu para comprovar que o estímulo que se faz aos produtos de certos artistas, mesmo alternativos, é bem diferente daquele que é feito, muito provavelmente, em qualquer zona de Portugal, mesmo tendo como objectivo o turismo. Também deu para comprovar o estado da economia portuguesa. É agradável, talvez onde mais descansámos e passeámos com calma, o mais giro foi mesmo ver um monte de crianças a correr e a brincar de um lado para o outro.
Há também um conjunto de estátuas bastante interessante, apaixonei-me pelos bebés uns em cima dos outros. O Karl e o João sodomizaram um caracol gigante.
Ora bem, agora, fora uma certa ida ao Castelo de Sintra, acho que nunca tinha subido tanto na minha vida, e embora desta vez o calçado fosse diferente, o nevoeiro e a temperatura enquanto subíamos não ajudou, lá fomos vendo a paisagem, os verdes e os castanhos. Ainda vimos o Museu Miró de passagem e o Estádio Olímpico no Palau Sant Jordi. E sinceramente, a vista que tivemos do Castelo de Montjüic foi cinzenta com umas pequenas sombras, embora com um ambiente bastante medieval. E frio. (Um nota à parte: a estátua que vocês estão agarrados na foto, e possuídos por uma luz superior, é dedicada à Sardanha, e é um baile típico de Barcelona)
À noite, depois da experiência do FresCo (versão de um restaurante fast-food com mais comida, o que não implica qualidade), que embora a mim me tenha morto a fome das sandes, para gente mais esquisita com a comida perguntem ao Karl (um verdadeiro especialista em fast-food de qualidade) qual foi a sua opinião… Excluímos o Bairro Gótico e optámos pela Praça Real, onde um “copo” favorável de cerveja nos acompanhou e onde o tradicional senhor a vender rosas nos brindou com a sua presença, eles andam por aí.
Dia 3: Foi o dia dedicado ao Gaudi. Indo directamente ao Park Güel, onde se vêem os traços distintos do arquitecto, as cores, os mosaicos em puzzle, nos bancos ou no tecto. E aqui, além de encontrarmos pombos de Barcelona que mais fazia lembrar a Praça do Bocage, encontrámos uma menina que tinha vivido em Lisboa durante dois anos. Deve ter sido o mais próximo de fazer amigos. Além do John e umas chinocas cobiçadas e quase conquistadas pelo João.
Depois de umas quantas voltas, e de almoçarmos no Limerick (eu com esperanças que tivesse algumas notas históricas, As Cinzas de Angela e tal, mas pelos vistos acabámos por não ir ao único pub irlandês, cujo dono era mesmo irlandês, embora não se encontrasse muito longe da nossa casa), lá chegámos à La Pedrera. Simplesmente lindo, o prédio, completamente reconstruída por Gaudi, foi como a crisálida a sair do casulo, comparando o antes e o depois. Até o terraço parece de outra realidade, toda a fachada ondulante parece viva aos nossos olhos, por alguma razão é Património da Humanidade (nomeado no mesmo ano que o Park Güel). O apartamento da família Milà, para quem o edifício foi construído (actualmente é propriedade da Caixa Catalunya, que utiliza algumas salas para exposições), está completamente mobilado à época, é um deleite para os olhos. Fiquei abismada. Desde o quarto das crianças, à cozinha. Quem gosta do estilo, passe pela loja, é obrigatório, mais que não seja para se deleitar mais um bocado. E quem se esquece do Cartão de Estudante em casa, adia a Sagrada Família para o dia seguinte, e volta para casa à chuva.
E volta no dia seguinte aviado de malas, para ver o esplendor por fora cheio de histórias e simbologias na mais pequena escultura, em cada pedra, por alguma razão só em 2020 é que a obra se dará por completa, mas que por dentro, talvez não valha tanto a pena, um sem número de escadas, que vale pela vista lá de cima. O último dia rematou-se num bar acolhedor mesmo ao pé da nossa casa, em Barceloneta.
De recordação, trouxe os mais variados postais, as cores vivas nas casas, nas pessoas alegres (que quando dissemos que éramos portugueses exclamaram, “Cojones!”, ou semelhante), a recordação do belo vinil de Antony and the Johnsons e Clap Your Hands Say Yeah, e outros tantos que lá ficaram naquela loja de CDs maravilhosa, o sabor do café, o cinzento do metro, o “Tréque-tréque-tréque”, a água gelada quando se tomava banho, o par, as manhãs pacíficas, e se me esquecer de alguma coisa, vocês lembram-me...
By Elisewin
por KaRL * 13:45
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